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sábado, 27 de fevereiro de 2016

Talvez


Talvez eu precise muito dizer que dói, mas não  queria correr tanto no sentido contrário  ao amor próprio e te ligar pra dizer.  Talvez eu ligasse, quase que como me lançar  ao precipício  da morte da minha dignidade  e por fim, seria inútil  também, já  que tudo o que eu faria seria ouvir a sua voz grave  a interromper  o meu tiro no pé, sem que nenhuma palavra dita entre no seus ouvidos.
Talvez esteja aqui chorando soluçante no silêncio  do centro do meu estômago onde nem uma lágrima  cai dos meus olhos. Acredito mesmo que a alma se concentra no estômago. Quando dói, dói  bem ali.
É  uma maratona com muito esforço  físico  e mental. Corro de mim e quando chego ainda estou ali, vindo junto, correndo do que me acompanha. Uma maratona exaustiva de fuga e derrota declarada. Cada passo é  salto com todo o âmago  do meu ser para uma vitória  que nunca chega.
Não ouço  mais o atrito dos pneus  dos carros no asfalto, nem os roncos dos motores das motos, nem os sons da músicas que tocavam longe, nem os louvores nas igrejas, nem o bater  de latas da máquina de lavar, nem o acionamento do refrigerador, nem nada. Minha sinfonia é  estridente, ensurdece. Insana  batucada de todos os ritmos em cadência. Gritam, berram e soam em meus ouvidos.
Já  não  vejo mais as luzes acesas das janelas nos prédios alternadas às dos cômodos  vazios, nem os faróis  e semáforos, nem os flashes das câmeras  dos celulares, nem os refletores potentes das redes de lojas na beirada das marginais, nem mesmo o Strobo da boate. Minha escuridão  apagou minha visão, com olhos cerrados semiabertos, ou diria semifechados, de pálpebras inchadas e globos oculares rachados com pupilas dilatadas. Não  entram imagens. O que vejo vem de dentro. São  slides de momentos, de lembranças  a girar num retro projetor movido a infinito combustível  da tortura.
Talvez eu escrevesse um texto sem sentido e o qual leria e releria até  que entre em colapso o meu cérebro. Poderia ainda me faltar palavras, folhas de papel, canetas, lápis, editores de texto digital. Mas o furacão  de coisas a dizer turbilham em cada piscar dos meus olhos. Talvez depois de tudo escrito, um ponto final coloque fim à manifestação pública da minha dor violenta. E não  Talvez ela continuará  a me bater.

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