Talvez eu precise muito dizer que dói, mas não queria correr tanto no sentido contrário ao amor próprio e te ligar pra dizer. Talvez eu ligasse, quase que como me lançar ao precipício da morte da minha dignidade e por fim, seria inútil também, já que tudo o que eu faria seria ouvir a sua voz grave a interromper o meu tiro no pé, sem que nenhuma palavra dita entre no seus ouvidos.
Talvez esteja aqui chorando soluçante no silêncio do centro do meu estômago onde nem uma lágrima cai dos meus olhos. Acredito mesmo que a alma se concentra no estômago. Quando dói, dói bem ali.
É uma maratona com muito esforço físico e mental. Corro de mim e quando chego ainda estou ali, vindo junto, correndo do que me acompanha. Uma maratona exaustiva de fuga e derrota declarada. Cada passo é salto com todo o âmago do meu ser para uma vitória que nunca chega.
Não ouço mais o atrito dos pneus dos carros no asfalto, nem os roncos dos motores das motos, nem os sons da músicas que tocavam longe, nem os louvores nas igrejas, nem o bater de latas da máquina de lavar, nem o acionamento do refrigerador, nem nada. Minha sinfonia é estridente, ensurdece. Insana batucada de todos os ritmos em cadência. Gritam, berram e soam em meus ouvidos.
Já não vejo mais as luzes acesas das janelas nos prédios alternadas às dos cômodos vazios, nem os faróis e semáforos, nem os flashes das câmeras dos celulares, nem os refletores potentes das redes de lojas na beirada das marginais, nem mesmo o Strobo da boate. Minha escuridão apagou minha visão, com olhos cerrados semiabertos, ou diria semifechados, de pálpebras inchadas e globos oculares rachados com pupilas dilatadas. Não entram imagens. O que vejo vem de dentro. São slides de momentos, de lembranças a girar num retro projetor movido a infinito combustível da tortura.
Talvez eu escrevesse um texto sem sentido e o qual leria e releria até que entre em colapso o meu cérebro. Poderia ainda me faltar palavras, folhas de papel, canetas, lápis, editores de texto digital. Mas o furacão de coisas a dizer turbilham em cada piscar dos meus olhos. Talvez depois de tudo escrito, um ponto final coloque fim à manifestação pública da minha dor violenta. E não Talvez ela continuará a me bater.
sábado, 27 de fevereiro de 2016
Talvez
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