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quinta-feira, 27 de julho de 2017

novo olhar

Uma estranha me olha através do reflexo do espelho.
Passava eu rapidamente. Ela estava lá, reproduzindo cada movimento. Passava a mão pelos cabelos e parou a observar. Correspondo. Mas dessa vez, não apenas a vejo.  
Observo atentamente cada linha de expressão, cada marca de suas habituais caras e bocas, revelando uma história de caminhos algumas vezes fatigantes. Aquele nariz fino, numa curva de pouco menos de noventa graus, apontava em minha direção quase como uma afronta, uma acusação. Me aprofundo em cada gota de pigmento formador das nuances de cores em seus olhos.  Sua pele de pouca melanina a penugem fina aloirada, quase branca em alguns pontos. Observo as milhares e diferentes, formas e tamanhos das sardas distribuídas em apenas alguns pontos estratégicos, muitas cores, texturas, formando uma faixa que me lembram estrelas agrupadas em galáxias no universo. Os cílios curtos realçados pela máscara preta, o olhar agateado produzido pelo delineador fino ultrapassando as extremidades laterais de seus olhos. Pequenas bolsas nas pálpebras inferiores lembrando vagamente certas noites insones.  Seus lábios semiabertos, levemente rosados, simulam um sorriso com algum toque intrigante de malícia e talvez um certo medo.  
Dediquei alguns minutos a essa observância nova de uma mesma imagem há anos reproduzida em diferentes recortes frios de vidro polido e suas coberturas de sal de Prata, vezes cacos, outras pedaços; reflexo inteiro, vezes estilhaçado. 
Não reparei se havia simetria naquele rosto não tão novo e sutilmente marcado, mas senti a perfeita harmonia encontrada nas coisas criadas pela natureza. 
Seduzidas pela luminância da reflexão, dilatadas as pupilas a abriram um caminho novo até uma nova percepção da mesma visão, piscavam os olhos surpresos. Senti percorrer as terminações nervosas, do centro até as extremidades do meu corpo, qualquer substância sem nomenclatura a me causar espantoso prazer e admiração. 
Abalo, certo tremor, ebulição sanguínea fervilhando um rubor em meu rosto. Nó na garganta, respiração contida, glândulas lacrimais ativadas, inquietação.
O olhar, a maneira de enxergar, como pés que percorrem uma mesma estrada todos os dias e certa vez tropeçam em uma nova pedra do caminho, viram, desta vez enxergaram o que sempre esteve ali. 
Não sei bem se os olhos, ou as lentes, mas é sabido que algo novo haja visto. 
Maviosa descoberta de amar-se como indivíduo e enxergar-se com a beleza de ser imperfeito.

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